Escrito por Gustavo Lorenzon
Tarte Lichia
Tínhamos um pé de lichia em casa.
Não lembro qual sua origem.
Onde foi conseguida a muda ou se foi uma semente plantada…
Nesta época da pré-adolescência isto passava despercebido. Meros detalhes.
Época em que as coisas são e estão.
Nada mais.
Sem preocupações em entender.
Uma época de férias, talvez antes ou logo depois da virada do ano. Não importa.
Lembro da sensação de leveza no ar, o descompromisso, a liberdade.
Ainda é vívida a imagem de minha mãe vindo dos fundos da casa.
Brotando da sombra que o sol em oposição proporcionava no entardecer.
A lembrança da imagem daquela figura sendo emoldurada pelas esquadrias de madeira escura da porta em contraste com o alvo fosco dos azulejos da cozinha enquanto entrava é como um abraço forte.
Reconfortante.
A sombra aos poucos esvaía-se para revelar a silhueta daquela mulher linda com seus cabelos de fogo.
Como que um prólogo para o fim da tarde, surgia um prato branco cheio de lichias empilhadas.
Equilibradas uma a uma, acompanhavam o caminhar das pernas longas, do rebolado sutil e da elegância incomparável no movimento.
Minha mãe adorava a fruta.
Me intrigava.
Eu não via graça.
Hoje, me encanta.
A influência do tempo sobre quem fomos, somos e ainda seremos é realmente surpreendente.
As memórias daquelas tardes de verão e das lichias frescas são um afago à alma.
E assim como a fruta, leves, florais e cheias de delicadeza.
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